quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Entrevista a Comendador Rui Nabeiro: "As Alterações Climáticas são preocupantes para a produção de café"


Entrevista ao Comendador Rui Nabeiro via online (extracto)


Temos assistido diariamente a catástrofes ambientais, que afectam as produções agrícolas e a economia mundial. Em relação ao café como é que vê o seu futuro da cultura do café em várias regiões do mundo face às Alterações Climáticas, que já se fazem sentir um pouco por todo o mundo?

 

Essa é para mim uma situação de alguma preocupação. Neste momento temos os nossos stocks, tudo gerido com muitas regras, porque uma empresa que consome apenas um produto tem de ter tudo isso programado. Mas como os preços e as outras dificuldades têm vindo a crescer e o café vem muitas vezes de regiões instáveis do Globo, há que contar também com as dificuldades dos transportes. Até à data, e felizmente, o café não tem tido motivo de faltar, o maior problema é mesmo a falta de transportes, e já há cafés cujo preço subiu 170 %.

As Alterações Climáticas preocupam-me e devem preocupar qualquer cidadão, assim como o que se passa com a pandemia, é algo que deve preocupar todos. E que tem de ser debelada com a educação e com a conduta correcta de cada um. Não é fácil dizer que “o caminho é este”, mas nestas coisas aparece sempre muita gente a querer aproveitar para ganhar dinheiro. No nosso caso, longe das produções, mais complicado é, tenho de programar umas viagens para ir a esses sítios para perceber bem o que se passa, mas se calhar já não estou com idade para fazer viagens nesta altura [risos].


Entrevista de Eduardo M. Raposo e José Alex Gandum gentilmente cedida pela Revista Memória Alentejana

Fotografias de José Alex Gandum



 

domingo, 5 de dezembro de 2021

Opinião: Portugal precisa de um Plano Estratégico de Saúde e Ambiente

A presente pandemia e a aceleração das Alterações Climáticas são uma mistura explosiva. Mas caricatamente são também uma oportunidade para tomar medidas para mitigar outros eventuais (quase certos) cruzamentos perigosos entre Saúde e Ambiente. Em Portugal não existe nenhum Plano, nem se prevê que venha a existir, a julgar pela inoperância e alheamento das autoridades neste aspecto.

Por isso seria tão importante que existisse um Plano Estratégico de Saúde e Ambiente que visasse promover ambientes saudáveis para ajudar a atingir os objectivos de saúde da população e reduzir os riscos derivados dos factores ambientais e dos seus condicionantes. Um dos principais objectivos seria reduzir a carga de doenças e identificar novas ameaças à saúde derivadas de factores ambientais, evitando pressionar os sistemas de saúde, geralmente já muito limitados mesmo em situações normais.

Embora não sendo especialista de todos estes temas, sugeria que fossem definidos vários blocos, como:

- Alterações Climáticas e Saúde: riscos provocados pelo clima, fenómenos extremos, temperaturas (negativas ou positivas) extremas, qualidade do ar, qualidade da água e outros veículos transmissores de doenças.

- Poluição: poluição do ar, das águas, dos aquíferos; poluição industrial e provocada por métodos agrícolas intensivos; resíduos de vária ordem e proliferação de produtos químicos.

- Radiação: com atenção especial à cada vez maior radiação ultravioleta, mas também à radiactividade natural e aos campos electromagnéticos provocados pela crescente tecnologia.

- Habitat e Saúde: poluição sonora, qualidade de ambientes internos e cidades saudáveis.

- Desigualdades e questões sociais da Saúde: com a abordagem de género, modos de vida de pessoas e comunidades, aspectos económicos e sociais associados e agravados pelo clima e pela dificuldade de acesso à saúde.

No entanto, as abordagens focadas no tratamento de doenças individuais não serão suficientes, pois o que é necessário é uma gestão flexível perante tão grandes desafios ambientais e de saúde. A crise climática e a emergência sanitária não têm solução à vista e em Portugal é de estranhar que não tenha sido já criada uma Lei de Emergência Sanitária, até porque o Governo já teve várias oportunidades de solicitar essa discussão ao Parlamento, em especial no último ano e meio em que Portugal – e o resto do mundo – vive uma crise sanitária sem precedentes agravada pelas alterações climáticas.


José Alex Gandum

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Região de Setúbal e Alterações Climáticas

 


Nos últimos meses as notícias sobre catástrofes naturais um pouco por todo o planeta começaram a rivalizar com as notícias sobre sobre a actual pandemia. De repente, regiões do Canadá onde por vezes até neva em Junho atingiram dos valores mais altos de temperaturas já registados na Terra, provocando milhares de vítimas. Depois a Europa central, nomeadamente a Alemanha, conheceu devastações impensáveis, logo seguida por uma região da China com cheias onde em três dias choveu o que chove habitualmente durante um ano. Mais recentemente, neve em grande parte do sul do Brasil. Paralelamente, fogos desde a Amazónia e Pantanal à Califórnia e à Austrália, com o absurdo de a Sibéria também estar a arder. Mais recentemente, foram tornados nunca vistos nalguns Estados dos EUA e nevões e cheias inéditas em certas regiões da Europa.

Apesar das ondas de calor que grassaram por quase toda a Europa durante várias semanas em Junho e Julho deste ano, Espanha incluída, Portugal escapou até agora a esse fenómeno. Até o incêndio de Monchique pode ser atribuído a incúria e não necessariamente às alterações de clima, porque os resíduos dos grandes incêndios de 2018 não foram recolhidos, com a agravante de arbustos e outra vegetação rasteira - principal combustível nos incêndios do sul de Portugal - terem crescido desmesuradamente com as chuvas do último Inverno, e poucos proprietários - Estado incluído - não cumprirem a legislação de limpeza dos terrenos. 

E a região de Setúbal? Qual a sua posição e resiliência em relação às Alterações Climáticas? Na verdade não se prevê fenómenos na região idênticos aos que aconteceram no centro da Europa mas a região não está imune às ondas de calor, incêndios ou até inundações, em princípio de amplitude limitada, embora a baixa de Setúbal, o centro histórico do Seixal ou Corroios já tenham sido atingidos por cheias assinaláveis. 

No tocante a ondas de calor, por exemplo, no ano passado a região de Alcácer-do-Sal registou os valores de temperatura do ar mais altos em Portugal, com uma permanência por vários dias de mais de 40 graus centígrados. O valor da precipitação do passado Inverno deu um contributo fundamental para manter o caudal do rio Sado, mas nos anos anteriores a percentagem de água na nascente do rio - causado pela fraca pluviosidade - chegou a ser muito preocupante.

A Península de Setúbal é uma das zonas mais sensíveis do país em termos de clima. A Serra da Arrábida - dona de vários microclimas - tem sido poupada a incêndios desde os fatídicos fogos de 2003 que dizimaram vegetação única a nível mundial, mas não há segurança que a Serra, ou alguns dos seus maciços, não sejam atingidos pelo fogo no próximo Verão que os especialistas dizem que vai ser dramático em muitas zonas do Globo. Por outro lado, a deficiente gestão dos recursos hídricos, em especial nos estuários dos rios Tejo e Sado pode contribuir para a alteração do clima. E é bom não esquecer que debaixo da Península vive o maior aquífero da Europa. Por tudo isto, e não só, é bom estarmos preparados para as Alterações Climáticas na região de Setúbal, e tudo fazermos que esteja ao nosso alcance para as mitigar, quer seja através de pequenos gestos, como reciclagem e redução do consumo, quer através da consciencialização ambiental.

Texto e foto: José Alex Gandum


quinta-feira, 11 de março de 2021

Nuclear: especialistas assinalaram os 10 anos do acidente de Fukushima com encontro online



Os dez anos sobre o acidente nuclear de Fukushima no Japão foi o mote para promover um encontro com especialistas portugueses e espanhóis numa conferência online, no passado dia 11 de Março. Foram 26 os interessados que responderam à chamada, desde activistas anti-nuclear, professores universitários, jornalistas e dirigentes e outros representantes de associações de defesa do ambiente.


Os participantes espanhóis abriram a sessão, tendo Chema Mazon feito referência à mina de lítio em Cáceres e ao cancelamento por parte do Governo espanhol da reexploração da mina de Retortillo. Isidoro acrescentou que «o tema das minas é sempre polémico e lamentou a falta de jornalistas especialistas e críticos do tema». Explicou também que «há famílias que vivem da Central de Almaraz e das minas de lítio, pelo que há interesses económicos e sociais associados ao nuclear».

António Eloy, também no papel de moderador da conferência, referiu que «quase não há movimentos a defenderem a causa, e que está difícil mobilizar as pessoas, embora também tenha de se considerar as limitações causadas pela pandemia».

Pedro Soares, do IGOT e da Urtica, lembrou que «o nuclear não tem fronteiras» e que «a mobilização da opinião pública partiu dos problemas das bacias hidrográficas comuns a Portugal e Espanha». Alertou ainda para «os poderosos interesses económicos capazes de influenciar governos e até jornalistas», mas adiantou que «a opinião pública tem de estar unida, que há que incentivar acções conjuntas e que a luta vai continuar».

Vítor Cavaco, do Partido Os Verdes, referiu que «o lítio tem levantado grandes problemas porque a sua exploração acontece em zonas sensíveis e perto de populações». António Eloy reforçou a ideia que há que pressionar o Conselho de Segurança Nuclear e outros organismos nacionais e europeus, lamentando que a APA esteja descredibilizada, depois da situação do aeroporto do Montijo.

Paulo Constantino, da PROTejo, aludiu também à necessidade de pressionar a todos os níveis, através de artigos e cartas abertas, inclusive dirigidas aos ministros do Ambiente de ambos os países.

Manuel Collares Pereira explicou que «o nuclear está em retrocesso em muitos sítios no mundo, inclusive em Espanha, portanto, não se percebe a aposta em mais mineração de urânio». 

Carlos Matias, antigo deputado por Santarém, reafirmou que «o rio Tejo é muito castigado por focos de grandes agressões, e criou-se um movimento de defesa do Tejo, o que permitiu encaixar num caderno global as reivindicações do encerramento de Almaraz». O especialista é apologista da separação das questões de poluição das nucleares, e lembrou ainda que tem de haver uma aliança entre os trabalhadores das centrais e dos depósitos nucleares e as associações de ambiente, pois «a questão do emprego é fundamental para uma província como a Extremadura espanhola». Nesse sentido, António Eloy, aludindo à Central a Carvão de Sines, referiu que «o desmantelamento de uma central precisa de mão-de-obra, o que pode ser prestado pelos trabalhadores das próprias centrais».

Chema Mazon abordou depois a questão dos trabalhadores e da população, referindo-se aos efectivos da central de Almaraz, aos sub-contratados e aos sindicatos. Acrescentou ainda que o preço do urânio está a cair a nível mundial e que não faz sentido apostar neste tipo de energia.

Collares Pereira apontou o caminho, o qual «passa pela descarbonização com grande urgência, o que viria a criar muitos empregos, mas os Governos estão a andar muito devagar», concluindo que se «devia reivindicar a questão da urgência».

A terminar, foi referido que seria muito útil promover mais encontros deste género, e, a sugestão do moderador António Eloy, o próximo ficará marcado em princípio para dia 26 de Abril, dia que assinala os 35 anos sobre o acidente da Central Nuclear de Chernobyl.

Texto: José Gandum



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

CONTRASTES DE LISBOA ENTRE FEVEREIRO DE 2020 E FEVEREIRO DE 2021













                         Cais do Sodré, Ribeira das Naus 
























                       Terreiro do Paço e Cais das Colunas



 

domingo, 31 de janeiro de 2021

JÁ NÃO HÁ SÓ UM ALENTEJO... HÁ VÁRIOS ALENTEJOS

 


Uma canção de Paco Bandeira diz que "o Alentejo é lindo na Primavera". Eu acho - acho não, tenho a certeza - que o Alentejo é lindo em todas as estações do ano. Essa canção também diz que "os campos são verdejantes" e se "enchem as ribeiras para as lavadeiras". Pois bem, lavadeiras já só há nas histórias que a minha avó contava ao canto da lareira, e as ribeiras já não se enchiam há bastantes anos. Finalmente, neste Inverno as ribeiras conseguiram reabastecer-se, mas não se sabe por quanto tempo. É que o Alentejo - dizem os especialistas - é a região de Portugal mais sensível às alterações climáticas. E o envelhecimento das populações e o abandono das pessoas, por um lado, e o uso inadequado da terra em muitas zonas, por outro, ainda mais contribuem para pôr em perigo uma das regiões essenciais à identidade, cultura e economia portuguesas, o Alentejo.

Mas o Alentejo não é uno com os seus Alentejos. Há o Alentejo Interior e o Alentejo Litoral. E o não reconhecer essas diferenças tem estado na base de muitos dos erros tomados pelas entidades oficiais nos últimos anos. O Alentejo deve ser das poucas regiões da Europa que tem uma diversidade de contornos praticamente opostos: planícies a perder de vista, o maior lago artificial da Europa e algumas das melhores e mais selvagens praias do Velho Continente. Com tanta diversidade não se pode olhar para o Alentejo com uma identidade única. É preciso atender aos vários alentejos. Só assim se pode gerir bem a serenidade do montado, aproveitar da melhor maneira e sem causar danos as águas do Alqueva e salvaguardar o mistério da Costa Vicentina.

Infelizmente, nos últimos anos a genuinidade do Alentejo tem estado em perigo: a começar pelas culturas super intensivas na orla de boa parte da Costa Vicentina, culturas que não trazem mais-valias por aí além à economia e ao país, com a agravante de precisar de mão-de-obra que não está disponível na região, a qual geralmente vem de países longínquos e impensáveis, com todas as consequências sociais a isso inerentes. Também o olival e o amendoal, entre outras culturas, a oeste e a sul do Alqueva vão degradar o Alentejo nos próximos anos, tornando-o ainda mais vulnerável às Alterações Climáticas. E ainda me lembro do meu avô me dizer que a esteva é a última planta antes do deserto e que tem um aroma intenso para servir de aviso... e cada vez se sente menos o aroma da esteva em terras alentejanas.

Texto e fotos: José Alex Gandum


domingo, 3 de janeiro de 2021

GRETA THURNBERG - 18 ANOS

Quando fotografei Greta Thurnberg ela ainda tinha 16 anos... hoje fez 18 anos. O que me admira em Greta é o facto de ser sueca, já que a Suécia é um dos países (até agora) menos flagelado pelas Alterações Climáticas e que tem capacidade para as mitigar tanto quanto possível. Faria mais sentido Greta ser da Europa do Sul, de África ou se calhar até brasileira, mas "nunca" sueca. Mas é sueca, e pronto. E tem todo o mérito de, ainda criança, ter mexido e mexer com consciências que "não querem ver" a "pandemia" que não tem vacina... as Alterações Climáticas. Por isso, parabéns Greta por muitos motivos.