domingo, 31 de janeiro de 2021

JÁ NÃO HÁ SÓ UM ALENTEJO... HÁ VÁRIOS ALENTEJOS

 


Uma canção de Paco Bandeira diz que "o Alentejo é lindo na Primavera". Eu acho - acho não, tenho a certeza - que o Alentejo é lindo em todas as estações do ano. Essa canção também diz que "os campos são verdejantes" e se "enchem as ribeiras para as lavadeiras". Pois bem, lavadeiras já só há nas histórias que a minha avó contava ao canto da lareira, e as ribeiras já não se enchiam há bastantes anos. Finalmente, neste Inverno as ribeiras conseguiram reabastecer-se, mas não se sabe por quanto tempo. É que o Alentejo - dizem os especialistas - é a região de Portugal mais sensível às alterações climáticas. E o envelhecimento das populações e o abandono das pessoas, por um lado, e o uso inadequado da terra em muitas zonas, por outro, ainda mais contribuem para pôr em perigo uma das regiões essenciais à identidade, cultura e economia portuguesas, o Alentejo.

Mas o Alentejo não é uno com os seus Alentejos. Há o Alentejo Interior e o Alentejo Litoral. E o não reconhecer essas diferenças tem estado na base de muitos dos erros tomados pelas entidades oficiais nos últimos anos. O Alentejo deve ser das poucas regiões da Europa que tem uma diversidade de contornos praticamente opostos: planícies a perder de vista, o maior lago artificial da Europa e algumas das melhores e mais selvagens praias do Velho Continente. Com tanta diversidade não se pode olhar para o Alentejo com uma identidade única. É preciso atender aos vários alentejos. Só assim se pode gerir bem a serenidade do montado, aproveitar da melhor maneira e sem causar danos as águas do Alqueva e salvaguardar o mistério da Costa Vicentina.

Infelizmente, nos últimos anos a genuinidade do Alentejo tem estado em perigo: a começar pelas culturas super intensivas na orla de boa parte da Costa Vicentina, culturas que não trazem mais-valias por aí além à economia e ao país, com a agravante de precisar de mão-de-obra que não está disponível na região, a qual geralmente vem de países longínquos e impensáveis, com todas as consequências sociais a isso inerentes. Também o olival e o amendoal, entre outras culturas, a oeste e a sul do Alqueva vão degradar o Alentejo nos próximos anos, tornando-o ainda mais vulnerável às Alterações Climáticas. E ainda me lembro do meu avô me dizer que a esteva é a última planta antes do deserto e que tem um aroma intenso para servir de aviso... e cada vez se sente menos o aroma da esteva em terras alentejanas.

Texto e fotos: José Alex Gandum


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