quinta-feira, 11 de março de 2021

Nuclear: especialistas assinalaram os 10 anos do acidente de Fukushima com encontro online



Os dez anos sobre o acidente nuclear de Fukushima no Japão foi o mote para promover um encontro com especialistas portugueses e espanhóis numa conferência online, no passado dia 11 de Março. Foram 26 os interessados que responderam à chamada, desde activistas anti-nuclear, professores universitários, jornalistas e dirigentes e outros representantes de associações de defesa do ambiente.


Os participantes espanhóis abriram a sessão, tendo Chema Mazon feito referência à mina de lítio em Cáceres e ao cancelamento por parte do Governo espanhol da reexploração da mina de Retortillo. Isidoro acrescentou que «o tema das minas é sempre polémico e lamentou a falta de jornalistas especialistas e críticos do tema». Explicou também que «há famílias que vivem da Central de Almaraz e das minas de lítio, pelo que há interesses económicos e sociais associados ao nuclear».

António Eloy, também no papel de moderador da conferência, referiu que «quase não há movimentos a defenderem a causa, e que está difícil mobilizar as pessoas, embora também tenha de se considerar as limitações causadas pela pandemia».

Pedro Soares, do IGOT e da Urtica, lembrou que «o nuclear não tem fronteiras» e que «a mobilização da opinião pública partiu dos problemas das bacias hidrográficas comuns a Portugal e Espanha». Alertou ainda para «os poderosos interesses económicos capazes de influenciar governos e até jornalistas», mas adiantou que «a opinião pública tem de estar unida, que há que incentivar acções conjuntas e que a luta vai continuar».

Vítor Cavaco, do Partido Os Verdes, referiu que «o lítio tem levantado grandes problemas porque a sua exploração acontece em zonas sensíveis e perto de populações». António Eloy reforçou a ideia que há que pressionar o Conselho de Segurança Nuclear e outros organismos nacionais e europeus, lamentando que a APA esteja descredibilizada, depois da situação do aeroporto do Montijo.

Paulo Constantino, da PROTejo, aludiu também à necessidade de pressionar a todos os níveis, através de artigos e cartas abertas, inclusive dirigidas aos ministros do Ambiente de ambos os países.

Manuel Collares Pereira explicou que «o nuclear está em retrocesso em muitos sítios no mundo, inclusive em Espanha, portanto, não se percebe a aposta em mais mineração de urânio». 

Carlos Matias, antigo deputado por Santarém, reafirmou que «o rio Tejo é muito castigado por focos de grandes agressões, e criou-se um movimento de defesa do Tejo, o que permitiu encaixar num caderno global as reivindicações do encerramento de Almaraz». O especialista é apologista da separação das questões de poluição das nucleares, e lembrou ainda que tem de haver uma aliança entre os trabalhadores das centrais e dos depósitos nucleares e as associações de ambiente, pois «a questão do emprego é fundamental para uma província como a Extremadura espanhola». Nesse sentido, António Eloy, aludindo à Central a Carvão de Sines, referiu que «o desmantelamento de uma central precisa de mão-de-obra, o que pode ser prestado pelos trabalhadores das próprias centrais».

Chema Mazon abordou depois a questão dos trabalhadores e da população, referindo-se aos efectivos da central de Almaraz, aos sub-contratados e aos sindicatos. Acrescentou ainda que o preço do urânio está a cair a nível mundial e que não faz sentido apostar neste tipo de energia.

Collares Pereira apontou o caminho, o qual «passa pela descarbonização com grande urgência, o que viria a criar muitos empregos, mas os Governos estão a andar muito devagar», concluindo que se «devia reivindicar a questão da urgência».

A terminar, foi referido que seria muito útil promover mais encontros deste género, e, a sugestão do moderador António Eloy, o próximo ficará marcado em princípio para dia 26 de Abril, dia que assinala os 35 anos sobre o acidente da Central Nuclear de Chernobyl.

Texto: José Gandum