Nos últimos meses as notícias sobre catástrofes naturais um pouco por todo o
planeta começaram a rivalizar com as notícias sobre sobre a actual pandemia. De
repente, regiões do Canadá onde por vezes até neva em Junho atingiram dos
valores mais altos de temperaturas já registados na Terra, provocando milhares
de vítimas. Depois a Europa central, nomeadamente a Alemanha, conheceu
devastações impensáveis, logo seguida por uma região da China com cheias onde
em três dias choveu o que chove habitualmente durante um ano. Mais
recentemente, neve em grande parte do sul do Brasil. Paralelamente, fogos desde
a Amazónia e Pantanal à Califórnia e à Austrália, com o absurdo de a Sibéria
também estar a arder. Mais recentemente, foram tornados nunca vistos nalguns Estados dos EUA e nevões e cheias inéditas em certas regiões da Europa.
Apesar das ondas de
calor que grassaram por quase toda a Europa durante várias semanas em
Junho e Julho deste ano, Espanha incluída, Portugal escapou até agora a esse
fenómeno. Até o incêndio de Monchique pode ser atribuído a incúria e não
necessariamente às alterações de clima, porque os resíduos dos grandes incêndios
de 2018 não foram recolhidos, com a agravante de arbustos e outra vegetação
rasteira - principal combustível nos incêndios do sul de Portugal - terem
crescido desmesuradamente com as chuvas do último Inverno, e poucos
proprietários - Estado incluído - não cumprirem a legislação de limpeza dos
terrenos.
E a região de Setúbal?
Qual a sua posição e resiliência em relação às Alterações Climáticas? Na
verdade não se prevê fenómenos na região idênticos aos que aconteceram no
centro da Europa mas a região não está imune às ondas de calor, incêndios ou
até inundações, em princípio de amplitude limitada, embora a baixa de Setúbal,
o centro histórico do Seixal ou Corroios já tenham sido atingidos por cheias
assinaláveis.
No tocante a ondas de
calor, por exemplo, no ano passado a região de Alcácer-do-Sal registou os
valores de temperatura do ar mais altos em Portugal, com uma permanência por
vários dias de mais de 40 graus centígrados. O valor da precipitação do passado
Inverno deu um contributo fundamental para manter o caudal do rio Sado, mas nos
anos anteriores a percentagem de água na nascente do rio - causado pela fraca
pluviosidade - chegou a ser muito preocupante.
A Península de Setúbal
é uma das zonas mais sensíveis do país em termos de clima. A Serra da Arrábida
- dona de vários microclimas - tem sido poupada a incêndios desde os fatídicos
fogos de 2003 que dizimaram vegetação única a nível mundial, mas não há
segurança que a Serra, ou alguns dos seus maciços, não sejam atingidos pelo
fogo no próximo Verão que os especialistas dizem que vai ser dramático em muitas
zonas do Globo. Por outro lado, a deficiente gestão dos recursos hídricos,
em especial nos estuários dos rios Tejo e Sado pode contribuir para a alteração
do clima. E é bom não esquecer que debaixo da Península vive o maior aquífero
da Europa. Por tudo isto, e não só, é bom estarmos preparados para as
Alterações Climáticas na região de Setúbal, e tudo fazermos que esteja ao nosso
alcance para as mitigar, quer seja através de pequenos gestos, como reciclagem
e redução do consumo, quer através da consciencialização ambiental.
Texto e foto: José Alex Gandum